Viajei de Cancún para Chetumal numa noite de sábado para aproveitar um domingo inteiro explorando os arredores. Meu objetivo era conhecer Kohunlich, Kinichná e Dzibanché, as ruínas maias esquecidas do sul de Quintana Roo.
Planejava acordar cedo, mas uma crise de cólicas estomacais resolveu aparecer primeiro. Tentei ignorar a dor, comer cereal com frutas no café da manhã e conversar como num dia normal de hostel, mas foi impossível — minha temperatura subia na mesma velocidade que meu ânimo despencava. Por sorte (ou não?), já tinha passado por isso antes e sabia o protocolo de emergência: repouso, banheiro, água, muita força de vontade e repetir o ciclo; não necessariamente nessa ordem.
Por volta do meio-dia, com o estômago mais estável, voltei a focar no transporte para Dzibanché e Kinichná, que ficam coladinhas uma da outra, e acabei descartando Kohunlich. Encontrei uma kombi que demoraria mais de uma hora para sair e me deixaria a 15 km das ruínas. Sem alternativa, embarquei. O calor estava de rachar, a umidade parecia um cobertor pesado e os bancos pareciam feitos para nádegas de alux (aqueles duendes maias!). A “sauna grátis” foi o empurrão que faltava para puxar papo com outros passageiros. Foi assim que conheci Germán.
Germán mora em Morocoy, o vilarejo mais próximo de Dzibanché e Kinichná. Para ele, essas ruínas sempre estiveram ali — era o quintal de casa, o lugar de levar a namorada, de fazer piquenique com os amigos. Depois de mais de uma hora de viagem, uma carona e o aluguel de um carro local (por volta de $500 MXN / R$135 o dia), finalmente chegamos a Dzibanché.
Dzibanché
Para minha surpresa, éramos os únicos visitantes na zona arqueológica. A tarde era perfeita: céu azul, vento suave e os edifícios imponentes, como se orgulhassem de resistir por mais de 2 mil anos. Dzibanché ganhou esse nome por causa de um dintel de madeira entalhado — em maya, significa “escritura na madeira”. O nome original se perdeu no tempo, e fiquei pensando: quantos séculos são necessários para que o nome de uma cidade majestosa como essa vire pó na memória?
Enquanto caminhava, imaginava as praças e templos cheios de vida — gente rezando, fazendo oferendas, trocando alimentos, tecidos e até armas. Há 1.200 anos, essa região abrigava quase 1 milhão de pessoas. Por um instante, senti como se Dzibanché estivesse me observando, testemunhando mais um capítulo de sua história.
Em Dzibanché, fica claro que os maias também queriam deixar sua marca — não importa o tamanho, mas que fosse eterna. Uma lição de humildade (ou de ambição?) em meio à selva.
Kinichná
O sol já começava a se despedir, e tivemos que correr para conhecer Kinichná, a “Casa do Sol”. Apesar de menor que Dzibanché, a acrópole tem uma energia palpável — dá para sentir a espiritualidade que ainda ecoa entre suas paredes de pedra.
Depois de me despedir de Germán e pegar uma carona de volta a Chetumal, segui viagem rumo a Cancún. Na mochila, trouxe não só lembranças, mas aquele sentimento gostoso de liberdade que só viagens assim proporcionam.
Informações práticas
Horário de funcionamento: Dzibanché e Kinichná abrem diariamente das 8h às 17h. Chegue cedo para evitar o calor do meio-dia!
Entrada: $85 MXN (cerca de R$23) por pessoa. Inclui acesso às duas zonas.
Como chegar de Chetumal:
– Kombi para Morocoy: Sai da Avenida Andrés Quintana Roo, perto do Restaurante Pantojas. Preço: $50 MXN (R$13,50). Viagem de ~1h30.
– Carro alugado: Opção mais flexível. Preços a partir de $500 MXN (R$135) o dia.
Dicas: Leve água, repelente e um chapéu — a sombra é rara. E não esqueça o protetor solar!
Conaculta. Guia oficial das zonas arqueológicas.
Grand Costa Maya. Dicas atualizadas para explorar o sul de Quintana Roo.